sexta-feira, 7 de março de 2014

ATLETA DE TOYOHASHI USA JIUJITSU PARA SUPERAR O AUTISMO

Atleta mirim de Toyohashi usa o jiu-jitsu para superar autismo e brilhar nos tatames

Kenzo Karakawa encontrou na arte suave o equilíbrio necessário para controlar a agitação e a hiperatividade para despontar como uma das promessas da modalidade

Uma história de amor, dedicação, paciência e superação de um casal com seu filho autista, que encontrou no esporte o atendimento ideal para satisfazer suas necessidades e equilibrar seu comportamento hiperativo.

Publicado em 16/02/2014 13:43
Suely Hocihara e Alex Kanashiro/ipcdigital.com


Quem vê o garoto Kenzo, de 9 anos , brilhando nos tatames dos campeonatos de jiu-jitsu no Japão não imagina que ele é uma criança autista. E foi justamente na arte suave que ele encontrou o equilíbrio necessário para controlar a agitação e a hiperatividade e despontar como uma das promessas da modalidade.

Kenzo é filho do casal Will Karakawa e Isa Silvestrini Karakawa e chegou ao arquipélago com seis meses de idade em 2004. A mãe engravidou no Japão, mas teve o menino em Curitiba (PR). Os indícios do autismo começaram a aparecer já na viagem rumo ao Japão onde o garoto fez o trajeto medicado por não conseguir parar de chorar.

Conforme a mãe, Isa, Kenzo começou a andar por volta dos oito meses. “A andar e a correr ao mesmo tempo. Aí não tivemos mais sossego”, acrescentou o pai. “Era uma criança que não deixava pegar nele, não que ele não aceitasse o toque, não tinha paciência. Nós não tínhamos mais vida social. Se íamos ao mercado não podíamos soltar dele. Era incrível, ia somente aos lugares que não podia entrar como salas onde apenas funcionários podem passar”.

Além das confusões inocentes e muitos sustos provocados, com um ano ele foi convidado a se retirar da escola brasileira. A professora ligou para a mãe e disse: “Desculpa, não podemos mais ficar com o Kenzo. Não estamos preparados para lidar com ele. Ele faz coisas que crianças de três ou quatro anos não fazem. Destrava janelas que as crianças não destravam”, recorda Isa sobre a reclamação da direção do estabelecimento.

Mas o que pesou mesmo na decisão da escola foi o dia em que a professora entrou com as compras e Kenzo escapou pelas pernas e fugiu. Uma criança muito agitada que fugiu varias vezes também de casa. "Com três anos ele fugiu a noite, no inverno. Pulava janelas, só podíamos morar no térreo porque pulava da varanda e escalava tudo. Parecia o homem aranha”, compara Isa. “Kenzo não tinha noção do perigo”, ressaltou. Para dormir, tinha que ser com um olho aberto e o outro fechado, portas com alarmes e grades, garante a mãe. Chegou a ser apelidado de Forrest Gump porque não parava de correr. Só se acalmava quando andava de carro.

Kenzo não é um autista clássico como o que se fecha no mundo dele. “Mas se isso acontece, eu o puxo para o nosso mundo. Ele não é de rotina, e mesmo que ele não responda, continuo conversando com ele”, diz Isa.


DIAGNÓSTICO

Quem deu o diagnostico do autismo foi uma australiana conhecida da família que trabalhava em Tokyo com crianças especiais. Ela passou o dia inteiro com o Kenzo no ambiente dele e só se dirigia aos pais quando tinha alguma pergunta. No fim da tarde relatou para Will e Isa que ele era uma criança hiperativa, mas com 95% de chances de ser autista.

Segundo os pais, a avaliação “caiu como uma bomba” na vida do casal. Então, começaram as pesquisas sobre o assunto e constataram que entre 10 sintomas, o filho se enquadrava em 9. Foi aí que veio a aceitação para conseguir finalmente ajudar o filho.

Dos 3 aos 6 anos Kenzo estudou em uma escola especial, o que o beneficiou muito. Agora está em uma escola japonesa normal, e, apesar de não ter estudado a língua portuguesa, ele fala, lê e escreve o português que vem aprendendo de forma autodidata.

Os pais de Kenzo se emocionam ao recordar da primeira palavra que o filho disse. Não foi papainem mamãe. “Foi chuva”, contou Will com lágrimas nos olhos. “Esse foi o dia que jamais esqueceremos. Sempre que passo lá no local me lembro desse dia. Estávamos andando de carro, ele estava no banco de trás e de repente disse: chuva!. Falei pra ele: É mesmo filho, esta chovendo!”.


JIU-JITSU

O Jiu Jitsu entrou na vida do Kenzo através do pai. Durante quatro anos ele acompanha os treinos de Will. Tinha kimono mas nunca mostrou interesse até que no ano passado o pai foi assistir um evento em Tokyo e quando retornou ao lar, Kenzo disse queria treinar Jiu Jitsu.

Will achou que seria uma fase, mas Kenzo realmente gosta. Onde Will pratica só havia adultos, mas após uma conversa com o professor foi cedido espaço para que ele pudesse treinar crianças. Começou com Kenzo e o filho do instrutor. Hoje já são mais de 10 alunos. Para Will foi um desafio que deu certo e um grande incentivo para as crianças e Kenzo. Com o jiu-jitsu Kenzo conseguiu aprender a aceitar mais a derrota, apesar de ser um sentimento dificil.

Para ele, o grande desafio no jiu-jitsu é a teimosia de não querer treinar seu ponto fraco. O que surpreendeu bastante o pai no último campeonato foi o fato de Kenzo ter conseguido o que as outras crianças normalmente não conseguem ter: o autocontrole durante a luta.

Ele lutou, escutou o instrutor, saiu da área de conforto e confiou no que estava fazendo. Quando questionado sobre o seu ídolo, Kenzo aponta o lutador Satoshi sem nenhuma dúvida. E para quem pensa que o pai fica enciumado com a admiração do filho pelo competidor, Will tem a resposta na ponta da língua. “Todo filho tem o pai como ídolo, como herói. Mas aqui é diferente, eu e que sou fã do Kenzo ele que é o meu herói”, revela.



BUSCA DE PATROCÍNIO
O pai de Kenzo esta na luta para conseguir patrocínios. Nesse mês na California, será realizado uns dos maiores campeonatos infantis e Will entrou em contado com a federação manifestando o interesse pela participação do filho. “Ele seria a primeira criança com autismo a competir”.

A entidade demonstrou interesse em colaborar, mas infelizmente a falta de patrocínio inviabilizou a viagem. “Fizemos camisetas para vender e levantar uma verba, mas não conseguimos nem para o visto”, disse o pai de Kenzo.

Aos empresários e interessados em patrocinar o garoto, Will criou uma página no Facebook para o filho e uma outra para divulgar o potencial de atletas com autismo.


“Acreditar nos sonhos de uma criança que, apesar de suas limitações, se esforça em busca do seu melhor ciente de que às vezes nem sempre os títulos virão é o melhor investimento que um empresário pode fazer”,
 analisa Will.

Fonte: http://www.ipcdigital.com/br/Esporte/Esportes-Comunidade/Atleta-mirim-de-Toyohashi-usa-o-jiu-jitsu-para-superar-autismo-e-brilhar-nos-tatames_16022014

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