Texto de Joanicele Brito, postado por Wilde Kate, Professora Sênior do Programa Son-Rise, que achei bastante interessante e que, nos faz refletir sobre o comportamento alterado de determinadas crianças diagnosticadas autistas, síndrome de Asperger, TDAH ou com Transtorno global de desenvolvimento.
Aqui tem boas recomendações e dicas de profissionais com 25 anos de experiência na área.
Leiam:
Publicado em 20/01/2013
Quando um pai descreve que seu filho é como "agressivo", significa que ele bate, morde, arranha, belisca, puxa cabelo, cuspe nas pessoas, dá tapas, socos e chutes usando força física. Esse termo também é utilizado se a criança morde a própria mão, bate na própria cabeça ou se golpeia a si própria de forma auto-prejudicial.
No dicionário, "agressivo" é definido como:
"Ofensas não-provocadas, ataques, invasões, ou coisas ameaçadoras."
Assim, quando usamos essa palavra para descrever os comportamentos dos nossos filhos, estamos dizendo que nossos filhos estão nos atacando.
Quando eles estão se auto-flagelando estamos acreditando que eles estão se auto-atacando de uma forma não provocada.
"Violento" é outra palavra que é usada para descrever os comportamentos listados acima.
Têm pais que procuram minha ajuda dizendo coisas como: "Meu filho está se tornando violento", ou profissionais ainda que dizem estar trabalhando com "uma criança violenta."
"Violento" é definido no dicionário como:
Ações extremamente fortes que se destinam a machucar as pessoas ou susceptíveis de causar danos a alguém usando ou envolvendo força para ferir ou atacar.
Quando chamamos os nossos filhos de violentos estamos sugerindo que eles pretendem nos prejudicar.
Para mim, a palavra evoca "imagens violentas de morte e guerra", e não algo que eu atribuiria a uma criança com autismo.
No Programa Son-Rise, não consideramos que as crianças estão nos atacando de forma não provocada.
Como a palavra "agressivo" sugere, as crianças não são más, ou realmente querem magoar outras pessoas. Acreditamos que elas estão tentando cuidar de si, da única maneira que sabem.
Nós não rotulamos esse comportamento como "agressivo" ou "violento".
Nós os chamamos de energia intensa. Intensa energia não tem nenhuma das associações de julgamento que as palavras "agressivo" ou "violentos" tem.
"Intensa energia" descreve mais precisamente o que está acontecendo.
Abaixo há dois dos motivos mais comuns para o seu filho possa ter energia intensa.
Compreender a razão ajuda a colocar em prática as estratégias mais eficazes para minimizar a energia intensa do seu filho,
bem como,
novos pensamentos e crenças que você pode adotar para ajudar a se sentir mais confortável com esse aspecto de seu filho.
Intensa energia não aparece
"vinda do nada"
Os pais me dizem que seus filhos os atinge sem razão aparente.
Em meus 25 anos trabalhando com crianças e adultos com autismo, tenho sido atingida, estrangulada, chutada, recebido socos, apertos, mordidas, tapas, cabeçadas e arranhada por crianças e adultos que eram muito mais altos e pesados do que eu.
A minha formação no Centro de Tratamento de Autismo dos EUA me ensinou a observar uma criança realmente e perceber o que está acontecendo com ela e, a relação entre o que eu fiz e o que ela fez. Desde então, eu nunca trabalhei ou observei facilitadores e pais atuando no playroom onde as crianças não tenham dado sinais claros de que estavam prestes a bater.
"Esta é uma notícia emocionante para você, pois isso
significa que tudo que você precisa fazer é observar seu filho
para tornar mais clara sua compreensão e perceber que o que você faz pode provocar o comportamento indesejado na criança."
RAZÃO # 1 - DESAFIO DOS SENTIDOS
Sabemos que o sistema sensorial das crianças autistas é muito afetado.
Elas podem ter uma energia se acumulando dentro delas e que elas não vão saber lidar com isso.
Quando temos excesso de energia em nossos corpos, fazemos alguns exercícios para ajudar a liberar tal excesso.
As crianças autistas não parecem entender o que está acontecendo no próprio corpo e assim criam formas originais e interessantes para aliviar o acúmulo de energia delas. Elas mordem, apertam e espremem alguém com grande determinação e com força.
A ação de morder, beliscar ou outro comportamento deste tipo lhes permitem liberar essa energia ajudando-as a se organizar fisicamente.
Tente o seguinte exercício:
1. Procure um objeto como uma bola de borracha ou um pano embebido em água.
- Realmente morda ele. Sim, eu quero dizer isso. Afunde seus dentes com toda força.
- Faça isso três vezes, cada vez com duração de pelo menos 20 segundos.
2. Com as duas mãos juntas esprema-as, novamente, não sem entusiasmo mas com todo a sua força.
- Faça isso três vezes, cada vez com duração de pelo menos 20 segundos.
3. Anote o que sentiu ao fazer isso.
O que eu sinto e o que as pessoas me relatam é uma liberação de toda a tensão acumulada. É bom fazer isso! E é útil para o corpo.
Nossos filhos estão fazendo isso pelas mesmas razões. No entanto, a necessidade de liberação de energia de seus corpos é muito maior que a nossa. O truque aqui é ajudar a nossa criança a usar algo diferente do corpo de outra pessoa ou dela mesma para liberar suas energias.
As crianças também podem dar uma entrada sensorial em si mesmas, batendo a própria cabeça, mordendo as partes moles da base dos seus próprios dedos, batendo em suas próprias coxas e batendo seus pés.
Neste caso, vemos as crianças agirem como seus próprios terapeutas ocupacionais, tentando ajudarem-se a si mesmas no equilíbrio dos seus próprios sistemas sensoriais.
Quais são os sinais?
Observe se seu filho tem um dos seguintes comportamentos,
quer imediatamente antes ou num período de 30 minutos
antes da intensa energia liberada por ele:
- Pulando e intensamente.
- Tensionando parte dos seus próprios corpos, por exemplo, enrijecendo o rosto agitando-o um pouco.
- Batendo mais vigorosamente em si mesmos com ambas as mãos em qualquer parte do corpo ou utilizando algum objeto.
- Correndo em volta da casa ou dentro do apartamento com maior energia.
- Gritando sons mais altos e mais longos que o habitual.
- Tornando mais intenso e mais rápido em recitar seus roteiros de filmes ou livros (crianças verbais).
- Solicitando respostas dos cuidadores mais rápidas quando eles já conhecem as respostas.
- Entrando num padrão contrário, quando elas (as crianças) pedem alguma coisa, dizendo “não” quando você dá a eles alguma coisa, em seguida, pedir para a criança o objeto de volta, em seguida, dizer "não" quando você voltar a oferecer o objeto novamente, e assim por diante (criando uma confusão mental).
Se você não tiver certeza do que ocorreu com seu filho no período de tempo anterior à manifestação da intensa energia, torne-se um detetive.
Leve o seu caderno de anotações com você e comerçe a anotar o que você vê.
Percebendo o que acontece antes e depois de seu filho manifestar uma intensa energia vai lhe dar pistas valiosas sobre o porquê dele estar fazendo aquilo. Uma vez que sabemos o por quê, então podemos aplicar as estratégias mais úteis para ajudá-los.
Queremos cuidar da razão subjacente
(que está por trás, que está oculta, que está por baixo, que está escondida)
da "energia intensa" do seu filho
ao invés de apenas administrar os sintomas.
O que fazer?
A idéia é dar às crianças a entrada sensorial que elas estão buscando ao longo do dia, de modo que elas não construam um momento para manifestar nas pessoas a energia intensa.
Você pode fazer o seguinte:
- Inicie apertando seu filho nas mãos, pés ou cabeça.
- Dê um abraço de urso nele (você sentado atrás de seu filho, envolva seus braços e pernas em volta de seu filho, para que possa dar-lhe um grande aperto de corpo.
- Role uma grande bola terapêutica sobre a criança. Esta é uma maneira de dar um “abraço de urso” em uma criança maior.
- Estimule a criança a saltar num trampolim ou cama elástica.
- Para crianças acima de 14 anos, sugiro que você tenha certeza de que vão faze uma série de exercícios, como natação, corrida, longa caminhada a passos rápidos, pular numa cama elástica grande, algo em que elas realmente se esforcem. Providencie isso em três vezes na semana.
Você pode fazer qualquer uma das sugestões acima.
Escolha uma ou várias em que você acha que seu filho irá se divertir mais. Ao fazer as três primeiras sugestões, você deve experimentar com a intensidade em que você ofereça a pressão adequada para o “abraço de urso” ou para a rolada da bola terapêutica. Lentamente aumente a pressão observando para certificar-se de que seu filho está gostando.
Minha experiência diz que as crianças que estão usando a energia intensa necessitam de pressões mais profundas.
Como responder ao meu filho quando ele bate?
1. Pense o seguintes:
- Meu filho está me batendo, na tentativa de cuidar de seu próprio sistema sensorial.
- Não significa nada sobre o amor ou o respeito que ele tem para comigo.
- Eu posso ajudar o meu filho, dando-lhe com a entrada sensorial adequada ajudando-o a equilibrar seu corpo.
Estes pensamentos vão te ajudar a se preparar para responder de uma forma pacífica, calma e amorosa.
2. Aperte as mãos, cabeça ou maxilar dele.
- Se ele está batendo a cabeça no seu colo, a proposta é apertar a cabeça dele com as suas duas mãos espalmadas ... se ele está apertando-lhe, ofereça suas mãos para que ele as aperte... se ele está mordendo-lhe, pressione a sua linha da mandíbula com seus dedos.
- Explique-lhe que ele não tem que bater, beliscar ou dar cabeçada em você, e que você ficaria feliz em poder espremê-lo sempre que ele quiser.
Agora você sabe os sinais de alerta que você deve ser capaz de oferecer soluções à sua criança devido aos estímulos sensoriais que ela está procurando obter antes que ela chegue à fase de morder, beliscar ou bater.
Dê sua mão a ela antes que ela chegue até você para lhe dar um aperto!
Dê algo para ela morder antes que ela alcance você.
Dicas:
- Quando estou trabalhando com uma criança que gosta de morder, muitas vezes, quando ela está me abraçando poderá afundar seus dentes em meu ombro, assim, eu sempre tenho comigo um pequeno brinquedo da mastigação no bolso para lhe oferecer, ou ombreiras adequadas debaixo da minha blusa para proteger meus ombros.
- Se o seu filho consegue mordê-lo, passe para a mordida versus (X) afaste-se dele. Por exemplo, se ele está mordendo seu braço, empurre seu braço para dentro da boca dele, se você puxar o braço vai doer mais ainda, evite isso. Leve o seu dedo polegar e o indicador e em forma de pinça num lado e outro da linha do maxilar do seu filho, isso não vai prejudicar ou machucar seu filho e os faz abrir imediatamente a boca.
RAZÃO # 2- Ele está se comunicando
Bater, morder, cuspir, dar socos, bater a cabeça, morder-se pode simplesmente ser o seu filho dizendo que eles querem alguma coisa.
Este pode ser o caso de uma criança que ainda não é verbal e também pode ser o caso de uma criança que é altamente verbal.
Se as crianças acreditam que as pessoas vão atendê-las mais rapidamente batendo em uma pessoa ou isto significa para elas que estão pressionando o botão de avanço rápido, elas vão continuar fazendo exatamente isso.
Quais são os sinais?
- A criança aperta, bate, morde, dá socos logo após alguém ter dito a elas que ela não pode ter algo.
- A criança está tendo problemas para fazer suas necessidades serem entendidas.
- A criança batem de diferentes formas e esta pode ser a maneira de seu filho tentar reiniciar uma atividade com você.
O que acontece é que as pessoas ao redor da criança se movem mais rápido e "entendem" mais quando as crianças batem. O adulto de repente, se torna mais ágil porque querem evitar os comportamentos indesejados. Uma criança pode começar a pensar – “ok, esse é o caminho para eu conseguir mais o que eu quero, quando bato, todo mundo tenta entender-me mais e mais depressa." Neste caso, é importante você estar consciente quando seu filho está usando a energia intensa, e como você está reagindo em resposta a ela (energia intensa).
Tente este exercício:
Responda as seguintes perguntas, quando seu filho bater em você por querer alguma coisa ou que esteja tendo um desafio para comunicar a você o que ele quer.
- Como é o seu corpo reage? Será que o seu coração bate mais rápido? Suas mãos começam a suar?
- O que você está sente? Zangado? Triste? Fica com medo? Se sente feliz?
- Como você se move? Mais rápido? Mais lentamente?
- Você dá a seu filho o objeto ou a atividade que ele estava pedindo?
- Se você não entender o que ele quer, oferece-lhe muitas coisas diferentes?
Em seguida, comece a observar. Como os membros da sua família interagem com a criança, como eles reagem quando a criança bate neles. Informe-se na escola do seu filho ou com os profissionais e cuidadores sobre a forma como eles reagem quando a criança bate neles.
Se seu filho está batendo para comunicar um desejo, é porque alguém, em algum lugar, responde facilmente a este tipo de comunicação.
O que fazer?
1. Pense os seguinte:
- Meu filho é inteligente! Ele está tentando conseguir o que quer pela via mais rápida possível.
- Isso não significa nada sobre mim ou à minha pessoa.
- Eu sei o que fazer. Eu posso ajudar o meu filho, movendo-me lentamente e deixando que ele saiba que eu não entendo quando ele me bate.
2. Mova-se lentamente.
Isso é muito importante. Queremos mostrar aos nossos filhos que qualquer forma de energia intensa não vai ajudá-los a ter mais rápido o que eles querem. Na verdade, torna as pessoas mais lentas.
3. Explicar
Diga ao seu filho que você não entende o que ele quer dizer quando bate em você. Explique também que, mesmo que ele bata em você, não vai mudar a situação e você ainda não vai atendê-lo.
4. Saia do caminho, e dê uma alternativa.
Agora que você sabe por que seu filho se comporta dessa forma pode se preparar melhor.
Se seu filho quer algo em que a resposta é não:
- Saiba que ele pode bater em você.
- Saia do caminho, então ele não poderá alcançá-lo com as mãos e isto lhe dará tempo para se proteger pegando as mãos dele. ou oferecendo alguma coisa para que ele bata, como por exemplo uma bola ou um tambor.
- Se seu filho é um adulto ou maior que você, sempre tenha uma bola grande de terapia ou uma almofada grande disponíveis que você possa colocar entre você e seu filho para se proteger.
- Acredite que você é forte e segure-o com toda determinação, não deixe-o soltar-se para lhe bater.
5. Não dê ao seu filho alguma coisa para que ele bata em você com aquilo.
Isso é muito importante! Você quer ajudar seu filho a entender que a utilização intensiva de energia de qualquer tipo não vai fazer com que ele tenha o que quer. Esta é uma habilidade muito importante para ensinar seu filho, que irá ajudálo socialmente nos anos por vir.
Se você deseja dar ao seu filho aquilo que ele quer quando ele tentou obter ao bater em você, certifique-se de lhe pedir para se comunicar de uma forma diferente antes de atendê-lo. Peça-lhe para apontar para o que ele deseja, ou usar uma aproximação da palavra, ou a própria palavra. Celebre-o quando ele fizer isso e certifique-se de explicar-lhe que você está dando a ele, porque ele se comunicou adequadamente, não porque ele bateu em você.
6. Seja persistente e consistente.
Se você já tem um histórico de movimento rápido quando o seu filho bate em você, pode demorar um pouco para o seu filho perceber que isso não é mais o jeito que você vai atendê-lo. Mantenha sua atitude da forma descrita acima até seu filho chegar a esse conceito.
Se seu filho demorar mais de duas semanas para mudar esse comportamento, certifique-se de que você está seguindo todos os passos sugeridos acima. Talvez você tenha deixado um passo crucial para trás.
Caso você esteja passando por todos os passos sugeridos, é mais provável que alguém do convívio do seu filho esteja atendendo-o de forma rápida.
Seja um detetive, descubra quem é essa pessoa.
Fonte: Joanicele Brito Postado por Wilde Kate, Professora Sênior do Programa Son-Rise.
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