A superdotação pode ser hereditária, o que significa que há uma maior probabilidade de outras pessoas da mesma família também apresentarem características de superdotação.
No entanto, cada pessoa é única e o diagnóstico de superdotação deve ser feito por meio de uma avaliação adequada.
Nos últimos tempos a superdotação subiu do status de condição pouco analisada pelo público geral para um viral de diversas reportagens, livros, séries e publicações nas redes sociais sobre o tema. Esse movimento de atenção à condição pode ajudar a facilitar o acesso a conhecimentos e estimular investimentos em pesquisas na área, mas também abre uma porta para supostos ‘especialistas’ disseminarem informações falsas sobre as altas habilidades.
Sabemos atualmente que existem profundas raízes entre a superdotação e a genética, o que torna os testes genéticos uma das formas mais precisas para medição da inteligência, superdotação.
Mas todo esse avanço na medição, compreensão e análise da superdotação também é seguido pelo surgimento de diversas distorções que não condizem com a realidade.
Um dos mais recentes mitos sobre o tema que tem ganhado certa visibilidade é a existência de um suposto espectro de superdotação, apesar de o termo poder ser empregado em diversos contextos a sua associação à superdotação pode induzir o leitor a acreditar que a condição é, na verdade, uma patologia. Essa questão de nomenclaturas que trazem uma ideia de patologia à superdotação se estende também a outros termos, como a sigla ASDH – Altas Habilidades e Superdotação ou dupla excepcionalidade, que também podem ter o mesmo efeito de patologização da superdotação.
Outro ponto que já possui uma forte base científica, mas que mesmo assim sofre com suposições, é a relação da superdotação com a saúde mental dos indivíduos, algumas teorias falaciosas afirmam que todo superdotado é autista e que a superdotação tem conexão com alguns transtornos.
Na verdade, apesar de haver a possibilidade de algumas pessoas apresentarem a superdotação e o autismo, não há uma relação de conexão necessária entre elas, podendo se manifestarem individualmente. É fácil pensar sobre isso, pais de pessoas autistas procuram profissionais que acabam por avaliar o QI, a maioria dos autistas não tem alto QI, mas a minoria que tem, acaba por ser divulgado, algo que pode distorcer os dados.
A mesma situação em pessoas que descobrem a superdotação avaliando as neurodivergências, comportamentos que os diferenciam. Em nosso departamento de pesquisa junto às sociedades de alto QI, constatamos que há muitos superdotados que não sabem que são superdotados, pois os pais não procuraram o teste que avaliasse o QI e descobriram na fase adulta por curiosidade.
Então fica o questionamento:
- O que leva os pais de uma criança a buscarem os testes comprobatórios de altas habilidades?
- Pessoas com traços bem definidos de superdotação com possíveis transtornos?
- Pais mais preocupados ou mais atentos?
Em alguns casos, mesmo que o teste genético aponte superdotação, também está presente uma baixa predisposição para habilidades como cognição, criatividade e velocidade de processamento.
Existem infinitas variáveis que também podem afetar o diagnóstico da superdotação e os dados extraídos deles, por consequência.
A minoria dos autistas têm superdotação e os autistas com pontuações muito altas de QI são aspergers. A minoria das pessoas com TDAH têm superdotação, mas muitos superdotados têm traços ou são diagnosticados com TDAH. Mas não é a maioria. Essas e outras questões, já sabemos através da ciência com pesquisas, amostras e experimentos, que devem ser usados como base para analisar com cuidado esses questionamentos apresentados.
Ou seja, a “viralização” da superdotação e a atenção que ela tem recebido atualmente, é importante para a projeção da condição e conscientização sobre ela, mas é importante que essa projeção seja feita com cautela e com bases científicas, por exemplo, por que informações falsas sobre superdotação ganham mais atenção do que as recentes descobertas, amplamente comprovadas cientificamente, sobre a genética por trás das altas habilidades?
REFERÊNCIAS:
Acesso em: 10 jan. 2024.