Na semana passada os finlandeses ficaram sabendo pelos jornais e noticiários que o Ministério da Educação pensa em terminar com o ensino da letra cursiva nas escolas, ensinando apenas a letra de forma.
Uma notícia que já era de se esperar num país onde a tecnologia é altamente utilizada e todas as crianças antes de se alfabetizarem já sabem mexer em computadores, tablets e telefones.
Mesmo assim, nós com mais de trinta anos, não deixamos de ficar surpresos pela notícia que mostra que o futuro tecnológico está muito mais perto do que imaginamos.
Existem algumas escolas que incluíram o tablet para cada aluno, abolindo quase que praticamente o velho e bom caderno, assim como os cadernos de caligrafia.
Outras desenvolvem seus trabalhos de pesquisa com a utilização de celulares inteligentes onde as crianças conectadas na net conseguem as respostas em tempo record pela famosa google, fotografam e já enviam para o e-mail do professor.
Ok, tudo isto já vimos por aqui, mas até agora eram experiências.
Tenho certeza que algumas escolas particulares no Brasil também fazem experiências deste tipo. Mas quando uma coisa tão simples como o fim do ensino da letra cursiva, que aqui é chamada de “escrita bonita” está ameaçada de extinção por decreto, o choque foi inevitável. Levamos um tapa na cara que nos fez acordar.
Realmente o tempo passa e a tecnologia toma conta.
Pelo que eu saiba, muitas escolas do Brasil também estão optando pela ênfase na letra de forma. E na verdade, quando a criança está ainda desennvolvendo as suas habilidades motoras, torna-se mais fácil reconher cada letra individualmente. No caso do aprendizado da letra cursiva, as crianças teriam ainda que desenvolver atividades motoras específicas para “desenhar” as letras e isto, segundo muitos educadores, hoje em dia seria somente uma perda de tempo.
Por enquanto, isto é uma sugestão de projeto e que se aceito entrará em vigor em 2016.
Segundo o grupo que propôs a ideia, atualmente, jovens e crianças têm uma escrita muito mais ativa no computador e por este motivo, acredita-se que seja desnecessário perder tempo ensinando as crianças a escreverem com letra cursiva.
A coordenadora do projeto Pirjo Sinko defende que é muito mais importante os professores se concentrarem na qualidade do texto e não em formas de escrever que já estão se tornanado obsoletas.
As crianças aprenderiam a reconhecer as letras escritas de forma cursiva mas estariam desobrigadas da tarefa enfadonha de tentar reproduzir as suas curvas e especificidades. Seriam capazes de ler mas não de reproduzir.
De acordo com a pedagogia moderna, em grande parte inspirada no construtivismo de Piaget e responsável por muitas mudanças nas práticas escolares.
O que importa é que o aluno descubra por si próprio os caminhos para a alfabetização e a escrita proficiente. Se Piaget estivesse vivo, talvez fosse o primeiro a aplaudir a proposta, já que possuia um pensamento de vanguarda.
Porém, a ideia de abandonar de vez a chamada letra emendada, não é unânime. Parte dos professores defende a importância do aprendizado também da letra cursiva como uma forma de trabalhar a coordenação motora e habilidades especifícas, da mesma forma que são desenvolvidas nas atividades de desenho e artesanato. Segundo estes, o processo constituí uma parte importante do desenvolvimento do aluno e a pratica da caligrafia é importante para tornar a escrita mais fluente.
Por sua vez, o grupo que lançou a proposta defende que é desnecessário este tipo específico de aprendizagem uma vez que os alunos terão a oportunidade de treinar suas habilidades de coordenação motoras em outras disciplinas que fazem parte do currículo como as aulas de desenho e pintura.
Para este grupo, a escola não pode se isolar em si mesma em técnicas ultrapassadas ingorando o que faz parte da vida dos alunos e como eles se expressam.
Hoje em dia se digita muito mais do que se escreve.
Inclusive pessoas adultas em suas rotinas de trabalho utilizam cada vez menos o lápis e o papel, uma vez que podemos anotar nossos compromissos até nas agendas dos nossos telefones.
A escola poderia utilizar este tempo para trabalhar outras atividades com as crianças e possibilitar que seus conhecimentos já adquiridos sejam explorados de diversas formas. Estaríamos desta forma cortando repetições, onde a criança praticamente tem que se afabetizar duas vezes.
Imaginem que daqui a alguns anos só os mais velhos saberão escrever com letra cursiva. Meus netos ficarão olhando com espanto quando eu escrever o nome deles com uma letra diferente. E o pior, provavelmente não irão conseguir entender!!! Os velhos terão uma língua secreta: “Não consigo ler vovó, você escreveu tudo junto, escreva organizado”!
Por enquanto o projeto está em discussão, vamos ver no que vai dar.
Mais uma coisa é certa: Mudanças ainda virão e a pergunta é: Nós professores, estamos prontos para estas mudanças?
Fonte: http://www.projetofinlandia.com/artigos/finlandia-pensa-em-abandonar-o-ensino-da-letra-cursiva/